Comunicação. Juntando letras e formando sílabas Sem nexo, coerência ou referência. Como uma criança que aprende as primeiras palavras. A gente não entende bem o que se quer dizer e no fim, tudo fica explícito pelo olhar, pelo tato, pelo gesto. Doze meses se resumiram a quatro. Durante oito meses eu achei mesmo que entendia o que era viver, o que era ser, o que era sentir e o que era amar. E me bastaram 120 dias pra me mostrar que eu não sei nadar. Durante tanto tempo eu uni sílabas para falar sobre um mar sem significado. A cada monossílabo pronunciado, me voltava um verso decassílabo. Me cercando, aparando arestas e me invadindo. Estive presa por minha maior arma: a voz. O processo para reconhecer nosso timbre é intenso, cansativo e duvidoso. Porque para poder falar é preciso ouvir muito. Nem tudo que se ouve é verossímil. Nem tudo que se reproduz é de direito. Nem tudo que se pensa é opinião. Quatro meses na sala de aula que é a vida me encantaram no auge dos meus vinte e quatro. O que sou é o agora com a simples certeza que todo dia o sol nasce, todo dia tem uma oportunidade de ser voz, ouvido, afago, abraço. Não precisa ser a voz que a sociedade ecoa. Essa aula é sobre ser uma voz singular que ocupa um espaço coletivo.
Voz que fala de amor, de perdão, de força, autocuidado e tantas coisas que são antagônicas ao que o barulho da cidade nos permite ouvir.
É ser uma voz ativa até que esse som una a mão de duas nas ruas, nos becos, nos cafés. A voz não pode ser privilégio. É fisiologia humana ter visão da perspectiva de um futuro justo, audição para respeitar o local de fala, tato seguro com afeto, olfato para se sentir em casa e paladar para se lambuzar com o que se quer.
a voz dá medo
mas é alternativa
em situação de perigo
tira da periferia e põe
no centro
da vida