quinta-feira, maio 29

sobre uma confusão


E quando o sonho se confunde com a realidade? 


Um dia cinza, um café quente, casaco e no caminho para o tédio nosso de cada dia que é simultaneamente a teórica salvação nossa de cada vida. Olho pela janela e vejo um lugar onde não estou, mas eu já estive. Árvore, banco, amarelo, grama todos esses itens com um desfoque familiar - era como se fosse a minha casa. Volto o olhar para o motorista, ele não sabe que estou lá, nem eu sei se ele realmente está lá, ou para onde está indo. Olho pela janela, vejo um sorriso - que também me é familiar. Ele se repete com uma suave gargalhada, mas de onde vem? De quando é? Frases e risadas. É como se essa voz fosse minha paz. Desci e segui o ritmo habitual do cotidianear, voltei a mais dura realidade - onde não há o mistério da risada. Deito, durmo, dias seguem, dias voltam. 


A maré me leva e a onda me traz.


Acordo e estou no banco, na grama, no céu. Olho para o telhado cinza e eis que surge o sorriso, ele se manda  - e eu me mando atrás dele. Brincamos, corremos, cansamos. Deitamos na grama, olhamos para o céu - com os corações palpitantes - sentimos algo sob nossos pés: o mar. Nos perguntamos de onde que veio toda essa imensidão sob nossos pés? Nunca entenderemos. Eu não queria entender - eu tinha medo. Eu só queria aproveitar aquele sorriso, mesmo que fosse só hoje. Percebi que quando eu questionava o que estava acontecendo ela fugia, e eu poderia ficar a ver navios naquele imenso mar. De repente o pôr-do-sol chega, e ela me diz: escreva. Eu disse que não, precisava entender para escrever. Ela fez um sinal negativo com a cabeça, se levantou. Perguntei se ela voltaria. Seus passos já estavam distantes, ela mirou o primeiro olhar, sorriu e disse sim. 


O sino toca e me diz que é hora de voltar.



Levanto da rede e procuro por toda a casa
Não há vestígios dela
Vivo sonhando com a hora de sonhar 
e voltar à realidade.

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