quarta-feira, julho 23

sobre um episódio fora de tempo e ordem




As peças do quebra-cabeça de papel machê foram desmanchadas pela garoa da madrugada desta terça-feira. Nada se encaixa. Não houve ligação. As sombras da escrivaninha exibem livros que nunca li e sei de cor. A rotina traz dias que já vivi, mas não sei o que pode acontecer em cinco minutos. Destruí e engoli os meus erros, não lembro. Deixei tocar o telefone. Pessoas cruzaram a minha sala de jantar e eu observei a folha que caía do pé de bananeira. Zumbidos, calafrios e tremores rondavam este espaço. Não atendi. Todos os caminhos me levam à Paris. A busca pela beleza é alimentada pela lembrança do que não fora. As estrelas são recarregadas com pitadas de sonhos - mesmo que mornos - de viver rodeada por rosas, boas palavras e saborosas bebidas. O desejo pela companhia de um bom amor é inevitável. Hesitei, mas liguei. Sentada na memorável poltrona das flores com um esplendido chá de camomila para acalmar os ânimos, me pus a planejar o destino, mais especificamente, escrever um destino. Com datas, endereços e muitas lacunas a serem preenchidas. Caixa postal. Sentar no Café de la Paix na França ou até mesmo no Café com Prosa na Epitácio Pessoa, e sentir um pouco da brisa praiana, só para saber o que está acontecendo com a vida, e quem sabe, entender o por quê das peças e ligações nunca existirem.

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