domingo, abril 12

Existencia Narrativa

Esses dias ou semanas, quem sabe meses - não sei - estou perdida. Não sei para onde vou ou com quem vou. Onde durmo, onde acordo, não conheço minhas roupas, nem meu sorriso. Os meus olhos estão com um pigmento diferente - acho que essa não sou eu. 

Devo estar vivendo em outro corpo, ou possa ser que eu esteja simplesmente narrando a história de uma garota de vinte anos. Devo ter estudado bem, conheço todo o passado, todos os amores, todos os sabores que ela sentiu. Sei onde o calo aperta. Sei quem perambula nos sonhos dela. Sei ainda quais são todos os desejos dela.


Ela não quer andar onde eu peço para ela andar. Está teimosa, não me ouve. Acho que nós perdemos um pouco a sintonia. Estamos nos desprendendo, o seus olhos estão mudando, até mesmo os lugares onde ela frequenta estão mudando. Ela vai acabar tropeçando. Está com raiva de mim. Falo pra ela sobre o que acho da vida, ela me se emburra completamente. Falo pra ela seguir o sonho da noite anterior. E me responde que lê Freud e que isso não passa do inconsciente alavancando a sua vida. 


E eu repito, tem certeza?


Sempre ignora. Prefere não responder porque a unica certeza é a de que tenho razão. E às vezes entro no blog dela e escrevo na esperança que um dia ela leia e entenda o porque que quero ver os seus pés na areia. A vida está passando, e não espera ninguém. Ela não vive. Não inspira, só respira. Não vê, só olha. E quando entro nesse quarto, olho pra essa janela com o verde e o azul celestial em combinação, tenho vontade de reinventar essa história para que ela viva. Para que eu viva. Para que minha narrativa não seja de magoas, tristezas e incertezas. 


Quero narrar sabores que ela experimentou, amores que ela abraçou, encontros em um café, em um botequim, quero até mesmo que ela deseje feliz aniversário para pessoas que ela se importou demais em outrora. 


Sem narrar nada sou. Já que ela não me ouve, sobrevivo escrevendo.

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