quinta-feira, fevereiro 20

cartas na mesa

me disseram que amar é um jogo.
então te encontro mais tarde
eu com o coração na mão
e você com as cartas sob a mesa

buraco. mais embaixo. jogo de dois. ora era de dupla, ora duelo. a linha tênue de nunca saber em que posição está. as cartas escaparam-me pelos dedos. talvez fossem como passarinhos, e a força com a qual segurava-as ia além daquela pretendida. apertava-as de coração apertado pra poder ainda permanecer no jogo. eu não queria jogar. queria matar o tempo. no fim das contas o tempo quem foi me matando. enquanto teus olhos estavam vidrados em busca da canastra. vidrado no morto. no que já foi. no que não é, mas se faz presente. vidrado em qualquer coisa que não fosse as mãos que jogam o jogo. 

uno. carta de trocas. quatro passos de distância. quatro de aproximação. o jogador quem decide. e eu não sabia mais com quem estava jogando. se perdeu no personagem. eu também me perdi na fantasia. a curiosidade de saber qual a próxima carta que iria puxar me fez não prestar atenção nas cartas que estavam em minhas mãos. não eram boas. eu queria mudar de baralho. calo ou falo? 

canastra. prendi-me àquela mesa. mastiguei o quanto pude. um encontro, um momento. outros encontros, outros momentos. senti como se segurasse uma constelação em minhas mãos pequenas. eram sete cartas em desordem. eu ainda estava no jogo. em um novo encontro, percebi que apertei com muita força, o bastante para tudo escapar, o bastante para que esse aperto parecesse um erro. decidi não jogar.

paciência. jogo de um. acomodei o incômodo até tornar-se imperceptível. tem coisa que não dá pra jogar sozinha. não sei brincar de desejar sozinha. não sei ter palavra sozinha. acredito que cada reencontro está no toque das mãos, dos lábios e no intervalo entre meus olhos e teus. é nesse intervalo que sinto tudo que possuo, ser-me roubado. e é após ele, que sinto querer ser roubada de novo. as cartas na mesa não são encontros. 

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